Benutzer:Marcus.palapar/Juracy Montenegro Magalhães
Juracy (Juraci) Montenegro Magalhães (* 4. August 1905 in Fortaleza, Ceará; †) war ein brasilianischer Politiker, Diplomat und General des Heeres (Exército Brasileiro), der zwischen 1931 und 1937 sowie erneut von 1959 bis 1963 Gouverneur des Bundesstaates Bahia war. Er war zwischenzeitlich sowohl zwischen 1946 und 1951 Mitglied der Abgeordnetenkammer (Câmara dos Deputados do Brasil) als auch von 1959 bis 1963 Mitglied des Bundessenats (Senado Federal). Darüber hinaus fungierte er 1954 für einige Monate als Präsident des Mineralölunternehmens Petrobras sowie zwischen 1964 und 1965 als Botschafter in den Vereinigten Staaten. Zu Beginn der Militärdiktatur fungierte er von 1964 bis 1965 erst als Justizminister sowie im Anschluss zwischen 1966 und 1967 als Außenminister.
Leben
Offiziersausbildung und Gouverneur von Bahia
Juracy Montenegro Magalhães, Sohn des Buchhalters Joaquim Magalhães und dessen Ehefrau Júlia Montenegro Magalhães, besuchte von 1912 bis 1917 das Colégio Sagrado Coração de Jesus sowie im Anschluss zwischen 1918 und 1922 das Liceu do Ceará. Im Juli 1922 trat er in das Heer (Exército Brasileiro) ein und wurde dem 23. Jägerbataillon (23º Batalhão de Caçadores) zugeordnet, ehe er im Februar 1923 eine militärische Ausbildung an der Militärschule (Escola Militar do Realengo) begann. Im Januar 1927 wurde er als Offiziersanwärter der Kavallerie wieder zum 23. Jägerbataillon versetzt, wo er im Juli 1927 zum Leutnant (Segundo-tenente) befördert wurde. Anschließend erfolgte seine Versetzung zum 1. Infanterieregiment (1º Regimento de Infantaria), in dem er später Kompaniechef und im Juli 1929 zum Oberleutnant (Primeiro-tenente) befördert wurde. Während dieser Zeit wurde er zu einem Anhänger von Getúlio Vargas und João Pessoa Cavalcânti de Albuquerque, die 1930 für die Ämter als Staatspräsident und Vizepräsident kandidierten. Als Anhänger der Bewegung junger Offiziere (Tenentismo) schloss er sich der Revolution von Oktober 1930 (Revolução de 1930) an, die sich gegen den gewählten Präsidenten Júlio Prestes richtete.
Nachdem Gétulio Vargas am 3. November 1930 von der dreiköpfigen Militärjunta (Augusto Tasso Fragoso, José Isaías de Noronha und João de Deus Mena Barreto) formell das Amt des Staatspräsidenten übernommen hatte, war Magalhães zunächst Verbindungsoffizier und übernahm dann am 19. September 1931 das Amt als kommissarischer Gouverneur (Interventor) des Bundesstaates Bahia. Im Februar 1933 erfolgte seine Beförderung zum Hauptmann (Capitão). Nach der Verabschiedung der Verfassung von 1934 (Constituição brasileira de 1934) durch die Konstituierende Nationalversammlung (Assembleia Nacional Constituinte) wurde er am 23. April 1935 formell Gouverneur von Bahia. In der Folgezeit kam es zur Unterdrückung Aufstände der kommunistischer Partido Comunista Brasileiro (PCB) unter Carlos Marighella. Das Amt des Gouverneurs bekleidete er nach der Errichtung des diktatorischen „Neuen Staates“ (Estado Novo) unter Präsident Vargas nach dem Staatsstreich zum 10. November 1937.
Rückkehr zum Militär und Zweiter Weltkrieg
Im Anschluss setzte Juracy Montenegro Magalhães seine militärische Laufbahn fort und wurde zunächst zum 18. Jägerbataillon (18º Batalhão de Caçadores) versetzt, ehe er einen Ausbildung an der Offiziersschule (Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais) absolvierte und dieser als Zweitbester seines Lehrgangs abschloss. Anschließend wurde er 1939 Kommandeur eines Bataillons des nach Antônio de Sampaio benannten Sampaio-Regiments und begann 1940 eine Ausbildung an der Generalstabsschule des Heeres (Escola de Estado-Maior do Exército), woraufhin er im Januar 1942 zum Major befördert wurde. 1943 wurde er in den Generalstab der 7. Militärregion in Recife versetzt, deren Kommandeur General Newton de Andrade Cavalcanti war. 1944 wurde er Offizier der Expeditionsstreitkräfte FEB (Força Expedicionária Brasileira), die während des Zweiten Weltkrieges nach Italien versetzt werden sollten, und nahm dazu an einem Lehrgang an der Command and General Staff School (CGSS) in Fort Leavenworth teil. Nach seiner Rückkehr wurde er zum 21. Jägerbataillon (21º Batalhão de Caçadores) sowie im Januar 1945 zum 14. Jägerbataillon (14º Batalhão de Caçadores) nach Florianópolis verlegt. Er war anfangs stellvertretender Kommandeur sowie später Kommandeur dieses Bataillons.
De volta ao Exército
Nesse período, por sugestão sua a Virgílio de Melo Franco, foi elaborado um manifesto condenando a ditadura e lançando a candidatura de Eduardo Gomes à presidência. Assinado por Virgílio, Eduardo Gomes, Ari Parreiras (chefe naval de Recife), Juarez Távora e Olímpio Falconière da Cunha, entre outros, o manifesto foi publicado no dia 22 de fevereiro no Correio da Manhã e em O Globo. Nesse mesmo dia José Américo de Almeida deu uma entrevista ao jornalista Carlos Lacerda, publicada no Correio da Manhã no dia 24, condenando a ditadura de Vargas. A publicação da entrevista de José Américo foi considerada um marco na política brasileira e representou na prática o fim da censura à imprensa.
Promovido a tenente-coronel em junho de 1945, Juraci encontrou-se com o líder comunista Luís Carlos Prestes, que havia sido libertado da prisão no dia 18 de abril em função da anistia aos presos políticos. Durante esse encontro Prestes revelou-se disposto a apoiar Vargas na condução do processo de democratização, o que levou Juraci a acusá-lo de estar fazendo o jogo do “queremismo” — movimento que propunha a convocação de uma assembléia constituinte com Getúlio ainda no poder e que era discretamente apoiado pelos comunistas.
Em seguida, Juraci obteve licença sem vencimentos do Exército para participar da campanha eleitoral e voltou à Bahia, com objetivo de organizar naquele estado a União Democrática Nacional (UDN) e de articular a campanha de Eduardo Gomes. Em agosto, os estatutos do novo partido foram aprovados. Otávio Mangabeira e Virgílio de Melo Franco foram escolhidos por aclamação presidente e secretário-geral, e, para compor a comissão executiva, foram indicados Juraci Magalhães, Valdemar Ferreira, Raul Fernandes, Odilon Braga, João Carlos Machado, Carlos de Lima Cavalcanti, José Augusto Bezerra de Medeiros e Filipe Moreira Lima.
Ao lado de outros membros da UDN, Juraci aproximou-se também, por essa época, da Esquerda Democrática (ED), movimento igualmente contrário ao Estado Novo, mas mais voltado para a problemática social do país. Reunindo vários intelectuais e políticos de prestígio, como João Mangabeira, Herculino Cascardo, Filipe Moreira Lima, José Lins do Rego, Aparício Torelli, Hermes Lima, Domingos Velasco, Osório Borba e Jurandir Pires Ferreira, a ED reclamava um programa com “espírito social” e pretendia livrar a UDN de “ranços conservadores”, ampliando as conquistas sociais do getulismo. A aliança de Juraci com a ED foi breve, assim como seria breve a aliança da ED com a UDN: nos dois anos seguintes o movimento se transformaria em partido político e adotaria o nome de Partido Socialista Brasileiro (PSB).
Na Constituinte de 1946 e no Congresso Nacional
No dia 29 de outubro de 1945 Vargas foi derrubado do poder e, em 2 de dezembro, de acordo com o calendário previsto, realizaram-se eleições para a presidência da República e para a Assembléia Nacional Constituinte. O general Eurico Gaspar Dutra, ex-ministro da Guerra de Vargas e apoiado por este, candidato do Partido Social Democrático (PSD), saiu vitorioso, derrotando por ampla margem de votos Eduardo Gomes. Para a Assembléia Nacional Constituinte, de um total de 24 representantes eleitos pela Bahia, a UDN elegeu 12, entre eles Juraci.
Durante os trabalhos da Constituinte, iniciados em fevereiro de 1946, Juraci teve com Prestes, no dia 26 de março, uma discussão que ficou famosa, quando perguntou ao líder comunista se “no caso de uma guerra a que fosse arrastado o Brasil por força de obrigações internacionais e legais que regeriam a declaração de guerra, o PCB lutaria pela pátria ou incitaria uma guerra civil”. Dado o acirramento dos ânimos motivado pela pergunta, Prestes confundiu-se na resposta, dando margem a interpretações que o qualificavam de antipatriota. Esse episódio teria sido um fator determinante no cancelamento do registro do PCB em maio do ano seguinte e na posterior cassação dos mandatos dos comunistas eleitos para a Assembléia Nacional Constituinte, cassação essa que contaria com o voto do próprio Juraci.
Presidente da Sociedade Amigos da América entre 1946 e 1947, Juraci participou ativamente da campanha anticomunista desenvolvida no país. Com a promulgação da nova Carta (18/9/1946), passou a exercer o mandato ordinário de deputado federal, participando das comissões de Segurança, de Finanças e de Diplomacia da Câmara. Em 1948 integrou a delegação do Brasil à III Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Paris, fazendo parte da divisão econômica. Na ocasião leu um discurso contra o Plano Marshall, preparado por Roberto Campos, seu auxiliar.
Para as eleições presidenciais de 3 de outubro de 1950, Juraci foi contra o relançamento da candidatura de Eduardo Gomes, considerando que ela “marcharia para outro fracasso eleitoral”. Na época chegou a tentar um acordo com o PSD, que não prosperou. Ao final acabou participando da campanha do brigadeiro, ao mesmo tempo em que fazia sua própria campanha para o governo da Bahia. Eduardo Gomes foi derrotado por Getúlio e Juraci por Régis Pacheco, candidato do PSD.
Retornando à Câmara, Juraci nela permaneceu até concluir seu mandato, em janeiro de 1951. Nesse mesmo mês foi convidado por Vargas para ocupar a presidência do Conselho Nacional do Petróleo, mas declinou do convite, aceitando porém em seguida assumir a presidência da Companhia Vale do Rio Doce. Foi assim um dos poucos udenistas que admitiu cooperar com o governo de Vargas. Promovido a coronel em outubro de 1951, deixou a presidência da Vale do Rio Doce em dezembro de 1952, sendo dois meses depois nomeado adido militar em Washington. A partir de maio de 1954, foi o primeiro presidente da Petrobras, empresa criada em 3 de outubro de 1953 pela Lei nº 2.004. Ocuparia esse cargo até 2 de setembro de 1954, poucos dias depois do suicídio de Getúlio Vargas, quando João Café Filho assumiu a presidência da República. Segundo suas próprias declarações, Juraci entrou em conflito com o novo presidente porque este não apoiava Antônio Balbino, seu candidato ao governo da Bahia, nas eleições de 3 de outubro de 1954.
Candidato da coligação formada pela UDN, o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e o Partido Social Trabalhista (PST), nesse pleito Juraci elegeu-se senador pela Bahia e Balbino, lançado por esses mesmos partidos com o apoio de uma ala dissidente do PSD, derrotou o candidato pessedista oficial, Pedro Calmon, na disputa pelo governo do estado. Empossado no Senado em fevereiro de 1955, Juraci foi convidado por Café Filho para ocupar o Ministério da Agricultura, recusando porém o convite. Entre março e dezembro de 1955 cursou a Escola Superior de Guerra (ESG), ocasião em que fez parte também da direção executiva da campanha eleitoral de Juarez Távora, candidato à presidência da República nas eleições de outubro de 1955, apoiado pela coligação formada entre a UDN e o Partido Democrata Cristão (PDC).
No 11 de Novembro
Realizadas as eleições de 1955, o candidato da coligação PSD-PTB, Juscelino Kubitschek, derrotou Juarez Távora por cerca de quatrocentos mil votos, ficando Ademar de Barros em terceiro lugar e Plínio Salgado em último. A UDN — que na sua última convenção, em abril de 1955, elegera Mílton Campos como seu presidente e Juraci Magalhães, Manuel do Nascimento Fernandes Távora e Adauto Lúcio Cardoso como vice-presidentes — abriu campanha contra a posse dos candidatos eleitos. Seu argumento era que as eleições haviam sido fraudulentas e que, além disso, Kubitschek não obtivera maioria absoluta, exigência que tinha sido objeto de uma emenda constitucional apresentada pelo deputado udenista Afonso Arinos de Melo Franco e derrotada no Congresso um mês antes das eleições. As forças armadas também se dividiram: o ministro da Guerra, Henrique Teixeira Lott, defendia o respeito à Constituição e à posse de Kubitschek, mas os ministros da Aeronáutica, Eduardo Gomes, e da Marinha, Edmundo Amorim do Vale, endossavam a tese da “maioria absoluta”.
A crise político-militar agravou-se e no dia 11 de novembro eclodiu um movimento militar liderado por Lott, a essa altura demissionário do Ministério da Guerra, visando, segundo alegava, assegurar a posse do presidente eleito. Com a situação no Rio logo definida em favor das forças ligadas a Lott, o presidente interino Carlos Luz, que substituíra Café Filho, internado por problemas de saúde, juntamente com 27 personalidades, embarcou no cruzador Tamandaré com destino a Santos, na expectativa de contar com apoio no estado de São Paulo. As forças militares de São Paulo, no entanto, colocaram-se a favor de Lott e, ainda no dia 11, o ministro da Guerra exigiu e obteve do Congresso o impedimento de Carlos Luz, que no mesmo dia foi substituído por Nereu Ramos na presidência da República.
Depois que ficou clara a inutilidade da resistência, no dia 13 o Tamandaré retornou ao Rio e fundeou na baía de Guanabara. Autorizado pelo novo governo, Juraci dirigiu-se ao cruzador juntamente com Afonso Arinos e Rafael Correia de Oliveira, conduzindo em seguida Carlos Lacerda à residência do embaixador de Cuba, que concedeu asilo ao udenista carioca. Dias depois, quando Café Filho restabeleceu-se da enfermidade e foi impedido de reassumir o governo, Juraci prestou-lhe solidariedade. O impedimento de Café foi referendado pelo Congresso em 22 de novembro e Nereu Ramos confirmado como presidente legítimo até a posse de Juscelino, marcada para o dia 31 de janeiro de 1956. Empossado Juscelino na data prevista, Juraci, no Senado, esteve na linha de frente da oposição ao governo.
Em junho de 1956 Juraci foi transferido para a reserva no posto de general-de-divisão e, no ano seguinte, quando Mílton Campos encerrou seu mandato na presidência da UDN, elegeu-se presidente do partido, apoiado pelo Norte e Nordeste, derrotando Odilon Braga, candidato de Mílton Campos. Durante sua gestão na presidência da UDN, procurando popularizar o partido, criou as “caravanas da liberdade”, constituídas por líderes udenistas que percorriam os estados falando ao povo.
Novamente no governo da Bahia
Nas eleições de 3 de outubro de 1958 Juraci foi eleito para o governo da Bahia, tirando proveito da crise que envolvia o PSD naquele estado e que fez com que fossem lançados dois candidatos oriundos das fileiras daquele partido: José Pedreira de Freitas e Tarcilo Vieira de Melo. Deixando o Senado Federal, tomou posse em fevereiro de 1959 e, pouco depois, segundo Maria Vitória Benevides, foi cogitado por Juscelino Kubitschek para candidatar-se à presidência nas eleições de 1960, com o apoio de uma coligação que envolveria a UDN, o PTB e o PSD, numa tentativa de estabilizar a vida política do país. Ainda de acordo com a autora citada, por trás da proposta de Kubitschek estava sua intenção de voltar à presidência em 1965, após o inepto governo que necessariamente faria Juraci, devido à difícil situação econômica do país naquele período.
No entanto, o crescimento da candidatura de Jânio Quadros — ex-governador de São Paulo e então deputado federal pelo Paraná — acabou por inviabilizar a coligação dos três maiores partidos. Em abril de 1959 Jânio foi lançado candidato pelo Movimento Popular Jânio Quadros (MPJQ), com o apoio de Carlos Lacerda, e em novembro do mesmo ano, na convenção da UDN, recebeu 250 votos contra 83 dados a Juraci Magalhães. Derrotado, Juraci recusou o convite para compor a chapa como candidato a vice-presidente, permanecendo no governo da Bahia. No dia 3 de outubro de 1960 Jânio foi eleito, tomando posse em 31 de janeiro do ano seguinte. Em seguida, Juraci Magalhães Júnior, filho do governador baiano, foi chamado para ocupar o cargo de subchefe do Gabinete Civil da Presidência da República. Entretanto, quando, em 25 de agosto de 1961, Jânio renunciou à presidência, Juraci afirmou: “A renúncia foi um plano de Jânio Quadros que fracassou, pois o que ele queria era dar o golpe e voltar mais forte; jamais pensou em abandonar o poder, mas em dar um passo para o absolutismo.”
Nessa ocasião, Leonel Brizola, governador do Rio Grande do Sul, organizou a “luta pela legalidade” com o objetivo de defender a posse do vice-presidente João Goulart, que se encontrava na China em missão oficial e cujo nome era vetado pelos ministros militares.
Respondendo a um telegrama de Brizola, Juraci afirmou que estava de acordo com a posse de Goulart. Em seguida viajou ao Rio de Janeiro para participar de uma reunião de governadores, onde encontrou-se também com os ministros da Guerra e da Marinha, respectivamente o marechal Odílio Denis e o almirante Sílvio Heck, ambos contrários à posse de Goulart. Continuando a defender uma solução legal, esteve depois com o general Osvaldo Cordeiro de Farias, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas (EMFA), que o encarregou de conversar de novo com Denis para tentar dissuadi-lo do veto a Goulart.
Na Bahia Juraci não permitiu qualquer manifestação pública de solidariedade à posse do vice-presidente, mas transmitiu à Câmara Federal, através do deputado Antônio Carlos Magalhães, a sua posição favorável à posse de Goulart.
Graças ao movimento a favor da posse concentrado principalmente no Rio Grande do Sul sob a liderança de Brizola e do general José Machado Lopes, comandante do III Exército, duas semanas mais tarde João Goulart assumiu a presidência da República. Antes, porém, como solução conciliatória, o Congresso votou a Emenda Constitucional nº 4, pela qual o regime presidencialista vigente foi substituído pelo parlamentarismo. Nessa época o nome de Juraci Magalhães chegou a ser lembrado pelo escritor Jorge Amado para ocupar o cargo de primeiro-ministro.
Lançado por Carlos Lacerda, então governador da Guanabara, para concorrer ao Senado por esse estado na legenda da UDN, Juraci foi derrotado nas eleições de outubro de 1962 por Aurélio Viana, candidato da coligação entre o PTB e o Partido Socialista Brasileiro (PSB) que tinha o apoio das ascendentes forças nacionalistas de esquerda, e ainda por Gilberto Marinho, do Partido Trabalhista Nacional (PTN). Completando seu mandato em abril de 1963, Juraci deixou a chefia do governo da Bahia, passando o cargo ao udenista Antônio Lomanto Júnior, candidato vitorioso que contara com seu apoio nas eleições de outubro anterior. Lomanto Júnior havia derrotado Valdir Pires, apresentado pela coligação entre o PDC, o PSD, o PTN e o Partido Social Progressista (PSP).
Em sua segunda gestão no governo da Bahia, Juraci concluiu as hidrelétricas de Funil e Barranco, implantou a Companhia de Eletricidade da Bahia (Coelba), prosseguiu as obras para o abastecimento de água em Salvador, construiu mais de três mil quilômetros de estradas, fortaleceu a Companhia de Navegação Baiana e construiu parte da avenida do Contorno, ligando a Cidade Alta à Cidade Baixa, em Salvador. Transformou o Banco de Fomento Econômico da Bahia no Banco do Estado da Bahia, construiu o Colégio Manuel Devoto, além de vários outros colégios na capital e no interior, criou o Setor de Educação Especializada para crianças excepcionais, surdos, mudos e cegos, instituiu dez cursos de aperfeiçoamento do professorado, promoveu a instalação de cursos de métodos audiovisuais e construiu postos de saúde, além de racionalizar o sistema de pronto-socorro. Estimulou também a Plantação de seringueiras no sul do estado, conseguindo condições de financiamento vantajosas junto ao Banco do Brasil.
No movimento de 1964
De acordo com sua entrevista ao Cpdoc, já citada, no final de 1963 Juraci foi procurado pelos generais Joaquim Ribeiro Monteiro e Alcindo Monteiro Avidos para participar da conspiração em curso contra o presidente Goulart, recusando-se entretanto a aderir ao movimento. No entanto, mais tarde, a crescente radicalização política do governo levou-o a mudar de idéia. Sua adesão total à conspiração deu-se, entretanto, após o comício de 13 de março no Rio de Janeiro, que ficou conhecido como o Comício das Reformas. Nesse dia, ao lado de seus ministros, inclusive os três ministros militares, de vários governadores e representantes sindicais, e diante de duzentas mil pessoas, Goulart discursou e assinou decretos-leis de interesse social. Entre estes, os mais importantes foram os que desapropriavam terras com mais de quinhentos hectares situadas à margem das rodovias e ferrovias federais, o de tabelamento de aluguéis de imóveis e o da encampação das refinarias privadas de petróleo.
Após o comício, na casa do general Ademar de Queirós e estando também presente Cordeiro de Farias, Juraci encontrou-se com o chefe do EME, general Humberto de Alencar Castelo Branco, a quem entregou uma lista de pessoas dispostas a participar da conspiração.
Quando o movimento eclodiu em 31 de março de 1964, Juraci seguiu para o palácio Guanabara, colocando-se ao lado de Lacerda, que ainda chefiava o governo do estado. No dia seguinte, consumada a deposição de Goulart, dirigiu-se à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, cujo comandante era o general-de-brigada Jurandir Mamede, para discutir a necessidade de “se evitar que o governo caísse em mãos inconvenientes”.
Apesar de o presidente da Câmara, Pascoal Ranieri Mazzilli, ter sido empossado formalmente na presidência da República, o poder de fato estava nas mãos do chamado Comando Supremo da Revolução, integrado pelo general Artur da Costa e Silva, o almirante Augusto Rademaker e o brigadeiro Francisco Correia de Melo. A essa altura, a busca de um nome para ocupar a presidência da República era a preocupação central da liderança do movimento. Autorizado por Lacerda, Juraci — segundo declarou — estava disposto a conversar sobre a candidatura do general Dutra nos meios políticos e militares, quando ouviu dos deputados da bancada udenista da Bahia a informação de que no meio parlamentar a candidatura de Castelo Branco encontrava grande aceitação. Após transmitir essa informação a Castelo, Juraci recebeu a tarefa de articular seu nome.
Pouco depois Lacerda entrou em choque com Costa e Silva, decidindo em função disso renunciar ao governo da Guanabara. Formalizou a renúncia através de uma carta datada de 5 de abril ao próprio Costa e Silva, o qual porém não acusou seu recebimento. Segundo Juraci, a carta acabou ficando em poder do general Sizeno Sarmento, que a entregou a Cordeiro de Farias, “ambos interessados em encerrar o incidente sem outras conseqüências”. A partir desse episódio, Juraci passou a representar Lacerda nas reuniões dos governadores de estado com Costa e Silva.
Fixado o nome de Castelo para a presidência da República, os governadores foram a Costa e Silva saber como o Exército receberia a indicação. Segundo Juraci, apesar de não apoiar efetivamente essa candidatura, Costa e Silva não se opôs a ela.
Nos governos pós-1964
Eleito indiretamente no dia 11 de abril, Castelo consultou Juraci sobre a nomeação de Luís Viana Filho para a chefia do Gabinete Civil e, em seguida, o convidou para ocupar o cargo de embaixador em Washington. Foi nessa ocasião que, homenageado pela Câmara de Comércio Norte-Americana de São Paulo, Juraci proferiu uma frase que ficou célebre: “O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil.” Permanecendo como embaixador em Washington de junho de 1964 a outubro de 1965, nesse período encontrou-se em Nova Iorque com Lacerda, que viajava com a missão de “explicar a Revolução” no exterior. De acordo com seu depoimento, Juraci tentou na ocasião colocar Lacerda em contato com autoridades norte-americanas, mas o governador carioca não compareceu ao encontro devido aos rumores de que Castelo Branco estaria pregando a candidatura de Juraci à sua sucessão, em detrimento da de Lacerda. Por seu lado, Lacerda afirma em suas memórias ter havido somente um desencontro, em função de um atraso de poucos minutos, justificando ainda sua volta apressada ao Brasil pelo estado de saúde de sua esposa. Dois meses depois Juraci enviou uma carta a Lacerda afirmando não ser candidato e mantendo seu compromisso com a candidatura do governador carioca.
Ainda em 1964 Juraci intercedeu junto ao subsecretário norte-americano Thomas Mann no sentido de que este facilitasse a renegociação da dívida externa brasileira. Pediu ainda a Mann, através de uma carta cuja minuta fora aprovada por Castelo, que atuasse junto aos congressistas norte-americanos para que fosse efetivado o Convênio Internacional do Café, cuja inoperância se devia à não-aprovação de medidas complementares pelo Congresso dos Estados Unidos. O subsecretário norte-americano solicitou, então, que Juraci conseguisse uma carta idêntica do governo colombiano, o que foi feito. A partir das duas cartas, Mann conseguiu do Congresso a votação do acordo e das medidas complementares.
Muito ligado aos Estados Unidos, em abril de 1965 Juraci escreveu a Castelo afirmando estar temeroso das propaladas posições de algumas delegações que compareceriam à III Conferência Interamericana de Economia (CIE) sobre cooperação econômica no hemisfério. Juraci antevia a formação de uma corrente antiamericana, que poderia transformar a América Latina num “bloco desligado da tradicional política pan-americana”.
Em resposta à carta de Castelo datada de 27 de agosto de 1965 convidando-o para a pasta das Relações Exteriores ou a da Justiça, Juraci aceitou assumir esta última. Chegando ao Rio a 7 de outubro, tomou posse no ministério poucos dias depois, recebendo o cargo das mãos de Luís Viana Filho, chefe do Gabinete Civil, que o ocupava interinamente desde a saída de Mílton Campos. Mílton Campos renunciara por não concordar com a idéia de se editar o Ato Institucional nº 2 (AI-2), motivada pela eleição, em 3 de outubro, de candidatos oposicionistas para os governos da Guanabara e de Minas Gerais, eleição vigorosamente contestada pelos setores militares conhecidos como “linha dura”.
Tentando encontrar uma saída antes da edição do ato institucional, Juraci enviou ao Congresso no dia 13 de outubro um projeto de lei visando dotar o governo de poderes de defesa revolucionária, como a ampliação da possibilidade de intervenção federal nos estados, a extensão aos civis do foro especial previsto para o julgamento de militares e a possibilidade de cassação de direitos políticos. Lacerda, que de início parecia dar apoio a essas medidas, acabou por recuar e romper com Juraci. Prevendo que o Congresso não aprovaria o projeto, já que o PTB e o PSD haviam firmado posição contrária, Juraci alertou os pessedistas afirmando que o governo precisava desses instrumentos, que o modo de consegui-los era secundário e que, “se necessário, abriria caminho à força”. No dia 22 de outubro participou de uma reunião com Castelo Branco, Ernesto Geisel, chefe do Gabinete Militar, Golberi do Couto e Silva, chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), Cordeiro de Farias, ministro do Interior, e Luís Viana Filho, chefe do Gabinete Civil. Nessa reunião ficou acertado que, num esforço para a aprovação das emendas, Juraci falaria na televisão sobre a situação política e procuraria mais uma vez a cúpula do PSD para que esta modificasse a posição do partido. Não conseguindo os resultados esperados, no dia 26, após ter discutido no dia anterior o esboço do AI-2 preparado por Nehemias Gueiros, Juraci levou seu texto final a Castelo, que o assinou no dia seguinte.
Pelo AI-2 foi reaberto o processo de punições extralegais de adversários do regime, cujo julgamento passou a ser da alçada da Justiça Militar, foram extintos os partidos políticos existentes e estabelecidas as eleições indiretas para a presidência da República, e foram acrescentadas limitações ao Poder Legislativo em benefício do Executivo. Ainda no dia 27 de outubro foi editado o Ato Complementar nº 1, estabelecendo a pena de três meses a um ano de detenção para as pessoas que, privadas de seus direitos políticos, participassem de atividades ou manifestações sobre assuntos de natureza política. Segundo Juraci, no período em que se articulava o ato institucional, o ministro da Guerra Costa e Silva entregou-lhe um trabalho do professor Luís Antônio da Gama e Silva que “estabelecia pura e simplesmente uma ditadura brutal no Brasil, começando por dissolver o Legislativo e o Judiciário, além de destituir todos os governadores estaduais”.
No dia 3 de novembro Juraci reafirmou que o governo estava disposto a punir com as sanções previstas os jornais e jornalistas que continuavam infringindo o AI-2. Ainda no mês de novembro, depois de reunir-se com Pedro Aleixo, Paulo Sarasate, Rui Santos e Antônio Carlos Magalhães, Juraci concluiu o texto sobre a nova legislação eleitoral, assinado em seguida pelo presidente Castelo Branco. No texto ficou estabelecido que um número não inferior a 120 deputados e 20 senadores promoveria dentro de 45 dias a criação de organizações partidárias provisórias, que, até as eleições de 1966, teriam as atribuições dos antigos partidos e, um ano depois disso, poderiam transformar-se em partidos definitivos. O prazo de 45 dias seria mais tarde prorrogado até 15 de março de 1966 através do Ato Complementar nº 6, assinado por Castelo em 3 de janeiro do mesmo ano.
Ainda no mês de novembro de 1965, chamado pelo comandante do I Exército, general Ururaí Magalhães, que queria saber sua opinião sobre a possibilidade de se impedir a posse dos três governadores da oposição eleitos em outubro, respectivamente Francisco Negrão de Lima, na Guanabara, Israel Pinheiro, em Minas Gerais, e Pedro Pedrossian, em Mato Grosso, Juraci respondeu que a posse dos eleitos era “ponto de honra para o presidente Castelo Branco”. Em seguida a esse incidente, dirigiu-se ao presidente solicitando demissão de seu cargo, mas Castelo o dissuadiu. Dias depois, a 17 de dezembro, representou Castelo Branco na posse de Negrão de Lima.
Pouco mais tarde, no dia 14 de janeiro de 1966, Juraci deixou o Ministério da Justiça, substituído por Mem de Sá. Três dias depois foi nomeado ministro das Relações Exteriores, recebendo o cargo das mãos do chanceler interino, Antônio Borges Castelo Branco. À frente da pasta das Relações Exteriores, assinou com o Paraguai a Ata das Cataratas, que estabeleceu o princípio da exploração conjunta pelos dois países da energia de Sete Quedas, base para a futura construção da hidrelétrica de Itaipu. Restabeleceu também as relações diplomáticas do Brasil com a Venezuela, rompidas por aquele país em conseqüência da deposição do presidente constitucional brasileiro em 1964. Em agosto, quando viajou à Europa, a imprensa noticiou que um dos seus objetivos era expor ao Vaticano a versão do governo brasileiro acerca dos problemas existentes na época entre a Igreja e o Exército, centrados principalmente na figura do arcebispo de Olinda e Recife, dom Hélder Câmara. Um mês depois, Juraci abriu a XXI Sessão da Assembléia Geral das Nações Unidas.
Defensor do princípio das “fronteiras ideológicas” para justificar a íntima vinculação do Brasil em relação aos Estados Unidos, Juraci promoveu durante sua gestão no Ministério das Relações Exteriores uma intensa aproximação entre os dois países. Em novembro de 1966, numa reunião do Conselho da Organização dos Estados Americanos (OEA) realizada em Washington, chegou mesmo a defender a criação de uma força armada interamericana permanente no hemisfério, com o objetivo de combater as ameaças revolucionárias. Em seguida viajou para a Argentina, onde foi debater essa proposta.
Em dezembro de 1966 participou da reunião da Associação Latino-Americana de Livre Comércio (ALALC). Na ocasião foi criado por unanimidade o Conselho de Ministros das Relações Exteriores, como órgão da ALALC.
Em fevereiro de 1967 Juraci participou em Buenos Aires da III Conferência Interamericana de Chanceleres, onde foi debatida a Carta da OEA. Na ocasião foi marcada para os dias 12, 13 e 14 de abril a conferência de cúpula dos presidentes americanos, a ser realizada em Punta del Este, no Uruguai.
Ainda como chanceler, Juraci promoveu a Conferência dos Embaixadores do Brasil nos Países Amazônicos, participou da reunião de consulta dos ministros das Relações Exteriores das repúblicas americanas em Buenos Aires, onde defendeu a eliminação dos gastos militares desnecessários, impulsionou a construção do palácio Itamarati, em Brasília, e assinou o tratado de assistência técnica entre Brasil e França, instalando a Comissão Mista Franco-Brasileira.
Com a passagem da presidência da República das mãos de Castelo Branco para o general Costa e Silva em 15 de março de 1967, Juraci Magalhães deixou o Ministério das Relações Exteriores, sendo substituído por José de Magalhães Pinto. A partir de então dedicou-se essencialmente à vida privada, interferindo apenas de maneira indireta na política, principalmente através de seu único filho vivo, Jutaí Magalhães, vereador de Itaparica (1959-1963), deputado estadual pela UDN na Bahia de 1963 a 1967 e de 1971 a 1975, deputado federal pela Aliança Renovadora Nacional (Arena) de 1975 a 1979, senador indireto de 1979 a 1987, senador constituinte eleito diretamente de 1987 a 1988 e de 1987 a 1995.
Juraci Magalhães ocupou ainda diferentes cargos em várias empresas nacionais e estrangeiras. Foi presidente da United Breweries, da Polímeros de Aratu, da Deltec, da Ericsson do Brasil e da Companhia de Bebidas da Bahia (Cibeb). Foi também diretor da Companhia City de Desenvolvimento, da Mercedes Benz, da Companhia City Paulista de Melhoramentos, da Companhia Industrial São Paulo e Rio (CISPER), da Systemas, da Crefinan — Crédito, Financiamentos e Investimentos e da Monteiro Aranha Engenharia, Comércio e Indústria, empresa com participação na Volkswagen do Brasil e em diversos outros empreendimentos. Foi membro do conselho da Refinaria União, do conselho fiscal da Companhia de Bebidas da Bahia (Cibeb), do conselho de administração da Light, do conselho consultivo da Sanbra, do conselho do Fundo Crescinco e do Condomínio Crescinco do Unibanco, do conselho da Carlsberg do Brasil, do conselho da Companhia de Seguros da Bahia, do conselho de administração da Aracruz Celulose, do conselho fiscal da Companhia Cervejaria Brahma, do conselho da Sidney Ross Company e do conselho fiscal da Miranda Estância S.A., além de presidente do conselho da Eletroprojetos S.A. Foi vice-presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro e recebeu o título de doutor honoris causa em leis pelo Rollins College Winter Park, na Flórida, Estados Unidos.
Casou-se com Lavínia Borges Magalhães, com quem teve seus filhos Jutaí e Juraci Júnior. Este último foi deputado estadual na Bahia de 1959 a 1963, quando faleceu, cumprindo o segundo mandato. Seu neto, Jutaí Magalhães Júnior, foi deputado federal pela Bahia (1983-1988, 1989-1992, 1993-1995 e 1999-), constituinte (1987-1988) e ministro do Bem-Estar Social (1992-1993).
Além de inúmeras mensagens e discursos, Juraci Magalhães publicou as seguintes obras: Minha vida pública na Bahia (1957), Minha experiência diplomática (1971), Minhas memórias provisórias (depoimento prestado a Alzira Alves de Abreu, do Cpdoc, 1982), O último tenente (depoimento prestado a J. A. Gueiros, 1996 ). A seu respeito J. J. Seabra escreveu Humilhação e devastação da Bahia (1933).
http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/juraci-montenegro-magalhaes